Em outubro do ano passado escrevi "Insustentáveis Dividendos Pagos pela Atual Direção da Petrobrás". [1] Em março desse ano reiterei as conclusões em "Petrobrás: Direção Parasitária Corta Investimentos para Pagar Dividendos Altos e Insustentáveis". [2] Demonstrei que a redução dos investimentos foi o principal fator que possibilitou pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pela direção da Petrobrás em 2021 e 2022. Aqui concluo que nada mudou na Petrobrás até o fim do 1º trimestre do governo Lula, investimentos muito baixos e a manutenção da política de Preços Paritários de Importação (PPI) possibilitaram pagamento alto e insustentável de dividendos.
Redução dos investimentos para maximizar pagamento de dividendos
A Tabela 1 apresenta, em dólares estadunidenses (US$), os Dividendos Pagos e o Investimento Líquido, sendo este último a soma das aquisições de ativos imobilizados e intangíveis, reduções (adições) em investimentos e investimentos em títulos e valores mobiliários, descontado do recebimento pela venda de ativos (desinvestimentos). [3]
Tabela 1: Dividendos Pagos & Investimento Líquido da Petrobrás, em Bilhões US$
Em 2021 e 2022 a razão média entre os dividendos pagos e o investimento líquido foi de 804%, no 1º trimestre de 2023 foi de 735,6%, enquanto entre 2005 e 2020 foi de 12,7%, em termos médios. Ou seja, houve aumento de 58 vezes do pagamento de dividendos em relação ao investimento no último trimestre, em comparação com a média de 2005 a 2020.
Os lucros e dividendos distribuídos hoje, são resultados dos investimentos realizados no passado. É evidente que elevar a distribuição dos dividendos, em detrimento dos investimentos, comprometerá o resultado futuro.
Os números evidenciam que a distribuição de dividendos tem sido desproporcional aos investimentos. Os resultados históricos demonstram que não é possível sustentar tais políticas.
Além de analisar os resultados históricos da Petrobrás é necessário comparar suas políticas de investimentos e de distribuição de dividendos com as de outras grandes companhias petrolíferas integradas.
A Tabela 2 apresenta os dados consolidados de 2022 da Petrobrás e de grandes petrolíferas listadas em bolsas. [3] [4]
Tabela 2: Dados consolidados da Petrobrás e grandes petrolíferas de 2022, em Bilhões US$
A Tabela 3 apresenta os dados consolidados do 1º trimestre de 2023. [3] [4]
Tabela 3: Dados consolidados da Petrobrás e grandes petrolíferas do 1º trimestre de 2023, em Bilhões US$
No 1º trimestre de 2023, a Petrobrás, apesar de ter a menor receita entre as seis empresas, pagou o maior montante em dividendos. Além disso, foi a petrolífera que realizou o menor investimento líquido, sendo de apenas 14% em relação à média dos demais.
A relação entre os dividendos pagos e os investimentos líquidos demonstram, de forma cabal, como as políticas da alta direção da Petrobrás são discrepantes em relação a gestão das grandes petrolíferas mundiais. A relação da Petrobrás foi 15 vezes superior à média praticada pelas outras petrolíferas.
Ao analisar o histórico da Petrobrás e os resultados de grandes petrolíferas internacionais é evidente que os dividendos que têm sido pagos pela alta direção da estatal, desde 2021, são realizados em detrimento dos investimentos líquidos e, por este, entre outros fatores, são insustentáveis. Sob a direção do governo Lula, nada mudou até agora.
No artigo "Insustentáveis Dividendos Pagos pela Atual Direção da Petrobrás" demonstro que os investimentos realizados em 2021 e 2022 são insuficientes para repor as reservas e manter a produção de petróleo da Petrobrás. Assim como, descrevo os preços conjunturalmente altos do petróleo e a venda de ativos rentáveis, estratégicos e resilientes à queda do preço do petróleo que também contribuíram para o pagamento insustentável dos dividendos em 2021 e 2022. Aqui verifico que a situação segue a mesma, com os resultados do 1º trimestre de 2023.
Reafirmo a Conclusão
O objetivo essencial das sociedades de economia mista, como a Petrobrás, não é a obtenção de lucro, muito menos aquele lucro não recorrente e de curto prazo, mas a implementação de políticas públicas. O que legitima a ação do Estado como empresário (a iniciativa econômica pública do artigo 173 da Constituição de 1988) é a produção de bens e serviços que não podem ser obtidos de forma eficiente e justa no regime da exploração econômica privada. Não há qualquer sentido em o Estado procurar receitas por meio da exploração direta da atividade econômica. A esfera de atuação das sociedades de economia mista é a dos objetivos da política econômica, de estruturação de finalidades maiores, cuja instituição e funcionamento ultrapassam a racionalidade de um único ator individual (como a própria sociedade ou seus acionistas). A empresa estatal em geral, e a sociedade de economia mista, em particular, não têm apenas finalidades microeconômicas, ou seja, estritamente "empresariais", mas têm essencialmente objetivos macroeconômicos a atingir, como instrumento da atuação econômica do Estado. [5]
Dos resultados históricos e comparativos, da Petrobrás e de grandes petrolíferas, permitem-se concluir que a redução dos investimentos, a níveis insuficientes para manter reservas e produção de petróleo, as vendas de ativos rentáveis, estratégicos e resilientes à queda do preço do petróleo e seus preços conjunturalmente elevados, possibilitaram pagamentos de dividendos altos e insustentáveis pela direção da Petrobrás em 2021, 2022 e no 1º trimestre de 2023.
* Felipe Coutinho é engenheiro químico e vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Maio de 2023
https://aepet.org.br/w3/
https://felipecoutinho21.wordpress.com/
Referências
[1] F. Coutinho, "Insustentáveis Dividendos Pagos pela Atual Direção da Petrobrás," 2022.
[2] F. Coutinho, "Petrobrás: Direção Parasitária Corta Investimentos para Pagar Dividendos Altos e Insustentáveis," 2023.
[3] Economatica e Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
[4] Petrobras, "Demonstrações Financeiras Intermediárias Consolidadas".
[5] F. Coutinho e G. Bercovici, "Petrobrás é a maior vítima de fake news da história do Brasil," 2021.
Comentários
Só esqueceu de mencionar que de 2005 a 2014 a Petrobras investiu no COMPERJ, refinaria do Maranhão, do Ceará, Pasadena e unidades de fertilizantes...
Novamente, defenda os direitos dos associados da AEPET, não o do seu partido. É para isso que voce foi colocado aí!
Eles são antagônicos
Porém apurar irregularidades não significa que se deva destruir a empresa como querem alguns, e sim aperfeiçoar os mecanismos de fiscalização e governabilidade com a comunicação explicando didaticamente a importância da empresa como propulsora do desenvolvimento nacional.
Com relação ao governo Collor atualmente ligado ao “bolsonarismo” foi um dos grandes responsáveis pela privatização do setor petroquímico nacional e posteriormente conseguiu ainda indicar três diretores corruptos para a BR Distribuidora sendo vendida para capitais estrangeiros e especuladores, aumentando a dependência do Brasil dando um desfalque de (cont.)
Com relação ao GLP, uma das grandes falácias foi a venda da Liquigás sob a alegação de monopólio, mas atualmente o que ocorreu é que a totalidade é privada cuja função é o engarrafamento e distribuição, além do preço não abaixar e ocorrer um grande cartel sem regulação de preços finais, a exemplo dos fertilizantes.
A Braskem é, hoje, a maior produtora de resinas termoplásticas nas Américas e a maior produtora de polipropileno nos Estados Unidos. Suas matérias-primas são usadas em diversas indústrias, do agronegócio a automóveis, tintas e eletrodomésticos.
A Petrobras detém 47% do capital votante da Braskem e 36,1% do capital total. A Novonor, antiga Odebrecht, é a maior acionista. Ela controla 50,1% do capital social votante e 38,3% do capital total.
A Braskem teve um superávit de 748% no segundo trimestre de 2015 e superou aos R$ 1 bilhão, no mesmo período que a Petrobras anunciou um déficit de 89%.
Isso não vai acontecer!
Quanto ao DESgoverno do LULADRÃO, o seu único objetivo é ROUBAR a PETROBRAS e a PETROS, para que sejam repassados recursos financeiros para os membros da sua quadrilha :
PT, PSB, PDT, REDE, PCdoB, PSOL, SD, PSD, PSDB, UNIÃO BRASIL e caterva.
Pergunta que não quer calar:
" Por que a AEPET não luta para recuperar os R$38 bilhões roubados da PETROS? A mesma AEPET sob a direção de participantes do ROUBO de R$38 Bilhões da PETROS, que todos nós petroleiros teremos de pagar até a nossa morte."
Você quer colocar incompetentes para substituir ladrões? O resultado será o mesmo, ou seja, desastre financeiro da PETROBRAS.
Siqueira e Tedesco nunca lutaram, para que os R$38 Bilhões desviados da PETROS fossem devolvidos pela quadrilha indicada pela PETROBRAS na PETROS.
Coutinho quer quebrar a PETROBRAS, ao defender o FIM da manutenção da política de Preços Paritários de Importação (PPI).
O conhecimento técnico estratégico da Petrobras deveria ser patrimônio inalienável de interesse nacional, um profissional gabaritado e experiente leva no mínimo dez anos para sua maturação.
A cartilha neoliberal de destruição e sucateamento da Petrobrás teve como um dos capítulos a não realização concursos públicos para reposição dos trabalhadores, tanto das áreas operacionais, quanto administrativas. O penúltimo concurso público foi realizado em 2021 e apenas 750 aprovados haviam sido contratados até 2022, o último para o nível técnico foi em 30 abril de 2023 previstas ~mil contratações que até hoje maio/2023 não foram anunciadas.
Prezado Flavio,
Primeiro, o verbo certo é PRESSIONAR;
Segundo, Não adianta PRESSIONAR a organização criminosa PT para demitir o atual presidente e o atual conselho de Administração, se os substitutos serão iguais ou piores do que os atuais ladrões criminosos.
PORTANTO, o certo é fazermos o IMPEACHMENT do LULADRÃO e caterva imediatamento.
LULADRÃO SOMENTE sabe roubar bem a você e a todos nós brasileiros pagadores de impostos.