O Estado brasileiro tem o controle acionário da Petrobrás e o governo federal, sob orientação do presidente da República, determina suas políticas de preços, de investimentos, de gestão de ativos e da dívida, de pessoal etc.
A Petrobrás é superavitária na produção de petróleo, ou seja, produz mais petróleo do que se consome no mercado brasileiro.
A estatal tem capacidade de refino para atender o mercado brasileiro dos principais combustíveis de origem fóssil. Suas refinarias são compatíveis com o petróleo brasileiro, tendo processado mais de 95% do petróleo de origem nacional.
Apesar disso, desde 2016 as direções da Petrobrás decidiram inovar e adotar a política dos Preços Paritários de Importação (PPI). Estabelecem preços como se os combustíveis tivessem sido importados, a despeito de terem sido produzidos a partir de petróleos nacionais e refinados no Brasil.
Com preços altos em relação aos custos de importação, os combustíveis da Petrobrás perdem competitividade e até 30% do mercado brasileiro é transferido para os importadores. A ociosidade das refinarias aumenta também em até 30%, há redução do processamento de petróleo e da produção de combustíveis no Brasil. No 2º trimestre de 2021, a ociosidade das refinarias da estatal foi de 25%. Outra consequência da política de preços é a desnecessária e perniciosa elevação da exportação de petróleo cru.
O custo de extração (lifting cost) da Petrobrás, incluída participação governamental e afretamento, no 2º trimestre de 2021, foi de 18,53 US$/barril. Enquanto o custo de refino foi de 1,63 US$/barril. Totalizando o custo de 20,16 US$/barril, ou seja, de 0,67 R$/litro dos derivados (para a cotação de 5,30 R$/US$, do 2º tri 21).
É correto afirmar que existem outros custos de Exploração e Produção (E&P), além dos custos operacionais de extração, mesmo se incluídos custos de afretamento e participação governamental. Pode se assumir, conservadoramente, que o custo de equilíbrio seja de 25,00 US$/barril. Somado ao custo de refino, também conservador, de 2,00 US$/barril, se totaliza o custo de 27,00 US$/barril, suficientes para arcar com custos operacionais, juros, impostos, seguros, depreciação e amortização. Temos o custo total de 0,90 R$/litro dos combustíveis produzidos, em comparação com os Preços Paritários de Importação (PPI) proporcionam lucros superiores a 100%, o que não se justifica para uma companhia estatal cujo objetivo de criação, e prática em período praticamente integral de sua história, foi de abastecer o mercado brasileiro aos menores custos possíveis.
A elevação dos preços dos derivados praticados pelas direções da Petrobrás desde 2015, em relação ao preço do petróleo Brent no mercado internacional, é acompanhada da redução do fator de utilização das refinarias da estatal, ou seja, da elevação da sua ociosidade. Em 2014, a ociosidade foi de 2% e o lucro bruto de US$ 37,4 bilhões, enquanto em 2020 a ociosidade chegou a 21% e o lucro bruto foi de US$ 24,5 bilhões, em valores atualizados para 2020.
Apesar de praticar preços relativos mais altos, pode-se observar a redução da geração de caixa e do lucro bruto anuais. Ao mesmo tempo em que se constata redução significativa do investimento. A adoção de preços relativamente mais altos, não necessariamente traz maiores lucros e investimentos, além de, historicamente, se observar o contrário.
A matriz energética mundial depende dos fósseis que representam 85% do total (Petróleo 34%, Carvão 27% e Gás Natural 24%). A energia nuclear representa 4,4% e as potencialmente renováveis 11% (Hidroelétrica 7%, Eólica e Solar 3%, outras 1%).
A participação das energias de origem fóssil na demanda de energia mundial se manteve estável nos últimos 25 anos. É improvável que percam importância relativa nas próximas décadas, considerando sua qualidade (flexibilidade, facilidade de uso, densidade energética e confiabilidade) e quantidade (disponibilidade), em comparação com as demais fontes primárias de energia.
Entre 1965 e 2020, o investimento anual médio da Petrobrás foi de US$ 20,13 bilhões. Entre 2009 e 2014, foram US$ 49,80 bilhões por ano. Em 2020, foi de apenas US$ 8,06 bilhões.
Preços desnecessariamente altos, exportação crescente de petróleo cru e importação de derivados, são consequências da política de preços inédita e arbitrariamente adotada pela direção da Petrobrás. Privatização de ativos rentáveis e lucrativos, desintegração vertical e nacional da Petrobrás, com consequente dependência cada vez maior dos preços do petróleo cru no mercado internacional. Redução drástica dos investimentos e do conteúdo nacional. São decisões de responsabilidade do Presidente da República que podem e devem ser urgentemente revertidas para o bem do Brasil.
Felipe Coutinho é vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Outubro de 2021
Comentários
Qual país importante pratica algo semelhante? PPI para beneficiar acionistas (na maioria estrangeiros) e outros países (comprando derivados)?? Existe??...
Se fosse verdade que "custo total de 0,90 R$/litro dos combustíveis produzidos", a diferença para a média de R$3,25/litro seria lucro, né?
Ou seja, já que produzimos cerca de 3,6 milhões de barris por dia (mais de 200 bilhões de litros por ano), lucro da Petrobras deveria ser de quase R$500 BILHÕES POR ANO!!!!!
Ou seja, ou as contas estão ridiculamente erradas ou ainda tem muitos petistas dentro da empresa.
Eu acredito piamente na primeira hipótese!
E acho que nem precisa explicar isso a ninguém, menos ainda ao Presidente pois, além dele não ser espe*ta (eu idem), além dele ter assessoria ministerial, ele já informou-se pessoalmente em visitas, o que foi erroneamente interpretado como prelúdio de intervenção na política de preços, o que não aconteceu.
-
Deixe de rodeios. Você está tentando engabelar desavisados e inocentes. Ao assumir o poder por meio do golpe de Estado em 2016, Michel Temer, que, de tão entreguista passou a ser chamado de MiShell Temer, ordenou a redução do refino do petróleo nas refinarias.
-
O objetivo, mais do que evidente: abrir espaço para que importadores privados de combustíveis passassem a lucrar com a importação de algo que antes praticamente não existia, pois a quantidade importada pelo país era bem pequena.
-
Outro objetivo: gerar excedentes, às nossas custas, aos países que passaram a exportar combustíveis ao Brasil, principalmente aos EUA.
-
Na verdade, a ordem para a redução do refino foi dada pelo “Estado Profundo” dos Estados Unidos; como capacho, sabujo, Temer limitou-se a cumpri-la.
-
Há 5 anos, em outubro de 2016, Temer tomava nova medida entreguista ao obrigar a Petrobras aderir à PPI.
E é bom lembrar que ACIONISTAS são pessoas que, inicialmente, INVESTEM na empresa e, como tal, esperam remuneração adequada, coisa que recentemente começou a acontecer.
Também é bom lembrar que, poucos anos atrás, por roubalheiras mil realizadas por dirigentes político-partidariamente indicados, as ações da empresa mergulharam a valores abaixo de R$5,00, acompanhadas de dívida monstruosa proveniente de investimentos direcionados muito mais para sobrepreços de empresas (Odebrecht é maior exemplo, mas não único), propinas internas e externas à empresa e "doações regulares de campanha, verificadas e aprovadas pelo TSE", reconhece essa frase?
-
O teu comentário expõe uma mente dominada pela ideologia individualista pregada pelos liberais, neoliberais, privatistas, capitalistas, o escambau. E você ainda demonstra nenhum apreço pelo povo brasileiro, o legítimo dono da imensa riqueza em petróleo que temos hoje.
-
Você acredita que um pequeno punhado de acionistas privados, a grande maioria estrangeiros, deve ter prioridade sobre mais de 210 milhões de brasileiros. Uma mente devidamente colonizada.
-
Expõe também uma mente dominada pela avassaladora propaganda feita, por anos a fio, pelos órgãos da mídia hegemônica e seus comentaristas.
-
Sério Moro e sua Lava Jato – alguém ainda acredita que Moro e essa operação tinham bons propósitos? – não explicaram como, mas chegaram ao montante de cerca de R$ 3 bilhões que teria sido a perda da Petrobras por causa da corrupção.
-
Continua
-
A mídia hegemônica e seus comentaristas passaram a divulgar esse número à exaustão com toda a ênfase possível. Porém, essa mesma mídia e comentaristas emudeceram quando o governo Temer, absurdamente, obrigou a Petrobras a entregar nada menos de R$ 10 bilhões a acionistas norte-americanos.
-
Era preciso cobrir prejuízos que tais acionistas teriam tido por conta da corrupção na estatal. Servilismo abjeto ao amo do norte, os acionistas brasileiros não entraram no rol dos que tiveram prejuízos, e nada receberam.
-
De outra parte, sempre se soube que a aplicação em bolsa de valores oferece oportunidades de gordos ganhos, mas também de fartos prejuízos e não tem garantia alguma. Ora, os sabujos resolveram acabar com o risco na aplicação em bolsa, mas somente para os acionistas dos EUA.
-
Continua
-
A chamada Operação Zelotes apurou desvios num montante inicial de R$ 19 bilhões feitos por mais de 700 grandes empresas, brasileiras e estrangeiras. Ou seja, um roubo 6 vezes maior do que R$ 3 bi, que segundo Moro e a Lava Jato, teria ocorrido na Petrobras.
-
Como num passe de mágica, todo mundo “se esqueceu” da Zelotes. Todos os que estavam, havia anos, empenhados em “sincera” campanha pela moralização do país e o fim da corrupção, não mais a citaram.
-
Desde a mídia hegemônica e seus comentaristas, passando pelo Ministério Público [Deltan Dallagnol e seus comparsas], o Judiciário [Moro e outros magistrados], todos, eliminaram a Operação Zelotes de suas agendas.
-
E o chamado “Escândalo do Banestado”, que teve fim idêntico ao da Zelotes?
Cerca de US$ 180 bilhões transferidos para o exterior pelas contas CC5 do Banco Central.
-
Continua
-
O “Escândalo do Banestado” foi um fraude multibilionária que envolveu uma montoeira de gente da política, do empresariado, da grande mídia, do Judiciário, que teve até CPI no Congresso Nacional. Absurdamente, a CPI não apresentou relatório final e acabou ...virando em uma grande e bilionária pizza.
-
O paladino do combate à corrupção, Sérgio Moro, lá estava, a tocar a maioria dos processos e, estranhamente, nem ele nem a mídia hegemônica demonstraram tanto afinco por responsabilizar os culpados quanto demonstraram no âmbito da Lava Jato. Por que será?
-
Diante disso, repito a pergunta feita na primeira parte: alguém ainda acredita que Moro e essa operação [Lava Jato] tinham, realmente, bons propósitos?
Os trabalhadores brasileiros, que há 20 anos, toparam uma proposta ousada do governo — de transferir seu dinheiro do tranquilo FGTS e investir nas imprevisíveis ações de Petrobras — se deram muito bem.