"A mídia não está aqui porque ela trabalha para os interesses privatistas. É preciso usar as redes sociais para mobilizar a população em defesa da soberania nacional", a afirmação é do vice-presidente da AEPET, Fernando Siqueira, que participou nesta sexta-feira (1) da audiência pública realizada na Comissão de Trabalho da Assembleia Legislativa do RJ (Alerj), por iniciativa do deputado Paulo Ramos (PSol-RJ), para discutir as privatizações de empresas como a Eletrobras, Casa da Moeda e a Companhia Estadual de Águas e Esgotos, a Cedae.
A audiência reuniu lideranças de diferentes partidos do campo popular e democrático. O plano do governo Temer faz parte do Programa de Parcerias de Investimento, que discute as concessões e privatizações de nada menos que 57 empresas.
Para o senador fluminense Lindbergh Farias (PT), o governo de plantão não conseguirá vender a Eletrobrás antes de deixar o poder. Farias leu manifesto da Frente Popular pela Soberania, presidida pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR), no qual os parlamentares avisam a diplomatas e investidores estrangeiros que as vendas ilegais do governo Temer serão anuladas pelo próximo governo eleito pela população. Clique aqui para ler o manifesto.
Gás de pimenta
Funcionários das estatais estiveram em frente do Palácio Tiradentes para uma manifestação pacífica, mas houve um princípio de tumulto, no qual a guarda legislativa disparou gas de pimenta para dispersar os trabalhadores.
O deputado Waldeck Carneiro (PT) destacou que atender aos interesses internacionais é o eixo principal do golpe que derrubou o governo eleito. "Em 1964, foi imediatamente revogada a lei que limitava a remessa de lucros das multinacionais. Agora, a primeira iniciativa de Temer foi trabalhar pelas iniciativas entreguistas de José Serra (PSDB-SP) no sentido de acabar com a lei de Partilha e entregar o pré-sal. Em seguida, começou a agir pela terceirização, reforma trabalhista, destruição do parque científico e agora pela entrega da Amazônia.
Luis Sergio, também do PT, classificou o plano de Temer como "barbaridade", mas considera o presidente muito fraco para impor suas ideias. "Não foi por acaso que o primeiro executivo recebido no palácio por Temer foi o presidente da Shell. Sem nenhuma popularidade e denunciado por corrupção, quer vender empresas essenciais para o desenvolvimento do país", disse, lamentando que o Judiciário tenha se constituído em um "braço do golpe".
Jandira Feghali (PCdoB) apontou para o "despudor da máfia que tomou o palácio do Planalto" e frisou que a luta em defesa das estatais não é corporativa. "Nos Estados Unidos, é o exército que toma conta das usinas hidrelétricas".
Já o físico Luiz Pingueli Rosa, que presidiu a Eletrobrás, avalia que um governo provisório e sem popularidade não deveria se arvorar a vender, "a preço de banana", estatais tão importantes. "O investimento acumulado na Eletrobrás é de R$ 300 bilhões, mas o governo quer vender a empresa por 10% desse valor".
Para Pingueli, é falsa a ideia de que as estatais sejam menos eficientes que as empresas privadas. "Grande parte do setor elétrico está sendo comprado por uma estatal chinesa. Na França, a EDF é muito eficiente, mesmo sendo estatal. A Austrália acaba de barrar a entrada dos chineses no setor elétrico", comparou, acrescentando que, em Portugal, a privatização causou alta de 40% nas tarifas, em cinco anos.