apresenta:
“O endividamento reduz direta e indiretamente a capacidade de investir e de competir por novas áreas.
• O alto nível de endividamento consome recursos que poderiam gerar riqueza para nosso País sob a forma de milhares de empregos e muitos bilhões de reais de receita para o Estado, nas três esferas de poder (federal, estadual e municipal)
• São quase US$ 7 bilhões anuais pagos a título de juros, valor suficiente para instalar a cada ano um sistema completo de produção de petróleo e gás com capacidade de produzir 150 mil barris diários
• No leilão de excedentes da cessão onerosa, a PETROBRAS só foi capaz de manifestar interesse em 2 dos 4 blocos oferecidos pois seu custo de capital é superior ao retorno esperado. Seria como tomar empréstimo no banco para aplicar em caderneta de poupança” (Branco, 2019)
Relação entre dívida, alavancagem para investimentos e juros
Castello Branco afirma:
“Anualmente a Petrobrás paga quase US$ 7 bilhões de juros... com esses recursos nós poderíamos investir em 1 sistema para produção de 150 mil barris diários...” (Branco, 2019)
O endividamento é resultado do empréstimo de recursos de terceiros para alavancar investimentos e aumentar a produção no desenvolvimento da província do pré-sal e na agregação de valor ao petróleo cru.
Se os juros de US$ 7 bilhões anuais são equivalentes a 1 sistema de produção de 150 mil barris por ano, a dívida bruta atual de US$ 101 bilhões é equivalente a instalação de 14 sistemas de produção. Seriam necessários 14 anos economizando com o não pagamento de juros para instalar o número de sistemas que se pode antecipar com esses recursos de terceiros.
Com a alavancagem por recursos de terceiros foi possível a antecipação dos investimentos a partir dos quais foram gerados empregos, pagos impostos e foi antecipado o aumento da produção e da geração de caixa da Petrobrás.
A participação da Petrobrás no desenvolvimento do campo de Lula, na Cessão Onerosa e nos cinco primeiros leilões de partilha do pré-sal foi potencializada pelo acesso aos recursos de terceiros e endividamento.
Falácia da privatização para redução da dívida da Petrobrás
As reduções da dívida e da alavancagem da Petrobrás têm sido utilizadas como pretexto para a privatização dos ativos da companhia.
Desde 2016 afirmamos que não é necessário vender ativos para administrar e reduzir a dívida da Petrobrás. (Coutinho & Assis, Existe alternativa para reduzir a dívida da Petrobrás sem vender seus ativos, 2016)
A Petrobrás reduziu sua dívida líquida de US$ 115,4 para US$ 69,4 bilhões e sua alavancagem (dívida liquida / EBITDA ajustado) de 4,25 para 2,20, entre o final de 2014 e de 2018.
Nesse mesmo período de quatro anos, a Petrobrás vendeu ativos no valor de US$ 18,72 bilhões. Deste total, os valores efetivamente recebidos em caixa totalizaram US$ 11,81 bilhões.
Esta dívida poderia ser reduzida, mesmo sem a entrada no caixa dos US$ 11,81 bilhões. Na realidade, as privatizações tiveram influência pouco relevante na redução do endividamento líquido da companhia.
Limitou-se a 25,65% da redução da dívida líquida, entre 2015 (final de 2014) e 2019 (final de 2018), que pode ser atribuída a venda de ativos. Cerca de três quartos (74,35%) da redução da dívida teve origem na geração operacional de caixa da Petrobrás. (AEPET, A falácia da privatização para redução da dívida da Petrobrás, 2019)
Avaliação dos “maus investimentos” e da corrupção na formação da dívida da Petrobrás
Em síntese, concluímos que do total da dívida existente no final de 2014 (US$ 136,04 bilhões), 4,5% corresponde aos investimentos ditos “improdutivos” e 3,6% corresponde aos efeitos da corrupção. Ressaltamos que os dois resultados não podem ser somados porque existem efeitos redundantes pelo impacto da corrupção na “improdutividade” dos ativos.
Assim pôde ser revelada a lenda da origem perversa do endividamento que alimenta o mito da Petrobrás quebrada e suporta ideologicamente o objetivo da privatização fatiada da estatal que é disfarçada pela meta da redução da alavancagem. (Oliveira & Coutinho, Avaliação dos “maus investimentos” e da corrupção na formação da dívida da Petrobras, 2017)
Relação entre endividamento e custo de capital
Castello Branco afirma:
“Esse endividamento excessivo faz com que a Petrobrás tenha um custo de capital superior aos seus concorrentes” (Branco, 2019)
Castello Branco argumenta que seria necessário reduzir a dívida para diminuir o custo de capital da Petrobrás.
Em 2014, o endividamento da Petrobrás era de US$ 132,1 bilhões e a taxa média dos financiamentos de 5,6% ao ano. Em 2018, a dívida foi reduzida para US$ 84,4 bilhões e taxa se elevou para 6,1% ao ano. (Petrobras)
Não existe evidência de relação de causa e efeito entre redução do endividamento e diminuição do custo de capital. Outros fatores determinam a disponibilidade de recursos e seus custos, como por exemplo a perspectiva de crescimento e de lucratividade da companhia, além das condições econômicas do Brasil e do mundo.
Redução dos investimentos
Entre 2009 e 2014 a Petrobrás investiu cerca de US$ 300 bilhões (em valores atualizados), média anual de US$ 50 bilhões. Para 2019 se prevê investimentos de cerca de US$ 10 bilhões. Entre 2020 e 2024, o planejamento da Petrobras projeta investimento médio anual de US$ 15 bilhões (PNG 2020-2024).
Foi dito que a verdade é filha do tempo e não da autoridade. Resta saber quanto tempo será necessário para que a verdade relativa ao mito da Petrobrás quebrada e à falácia da necessidade das privatizações dos seus ativos para administração da dívida seja aceita com naturalidade.
P.S. Para assistir a palestra do presidente da Petrobrás, Roberto Castello Branco, realizada na Comissão de Infraestrutura do Senado e comentada pela AEPET acesse aqui
(AEPET, 2019)
* Felipe Coutinho é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
https://felipecoutinho21.wordpress.com/
Referências
AEPET. (2019). A falácia da privatização para redução da dívida da Petrobrás. Fonte: http://www.aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/2953-falacia-da-privatizacao-para-reducao-da-divida
AEPET. (2019). Análise da exploração e produção dos Excedentes da Cessão Onerosa. Fonte: http://aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/3714-analise-da-exploracao-e-producao-dos-excedentes-da-cessao-onerosa
AEPET. (2019). Vídeo: AEPET rebate falácias do presidente da Petrobrás no Senado. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=TSrZPthaXXs&feature=youtu.be
Branco, R. C. (Agosto de 2019). Palestra na Comissão de Infraestrutura do Senado de Roberto Castello Branco. Fonte: https://legis.senado.leg.br/comissoes/reuniao?0&reuniao=8832&codcol=59
Coutinho, F. (2019). Brasil e o ciclo extrativo do petróleo - Nova colônia em pleno século 21. Fonte: http://aepet.org.br/w3/index.php/conteudo-geral/item/3635-brasil-e-o-ciclo-extrativo-do-petroleo-nova-colonia-em-pleno-seculo-21
Coutinho, F., & Assis, J. C. (2016). Existe alternativa para reduzir a dívida da Petrobrás sem vender seus ativos. Fonte: https://felipecoutinho21.wordpress.com/2016/10/06/existe-alternativa-para-reduzir-a-divida-da-petrobras-sem-vender-seus-ativos/
Oliveira, C., & Coutinho, F. (2017). Avaliação dos “maus investimentos” e da corrupção na formação da dívida da Petrobras. Fonte: Blog Ocupar a Petrobras: https://felipecoutinho21.files.wordpress.com/2017/06/formacao-da-divida-da-petrobras_final.pdf
Oliveira, C., & Coutinho, F. (2017). O Mito da "Petrobras quebrada". Fonte: Blog Ocupar a Petrobras: https://felipecoutinho21.files.wordpress.com/2017/05/o-mito-da-petrobras-quebrada_revfinal.pdf
Petrobras. (s.d.). Central de Resultados. Acesso em 2019, disponível em https://www.investidorpetrobras.com.br/pt/resultados-e-comunicados/central-de-resultados#2019
Wald, E. (2019). Saudi Aramco Is The Most Profitable Company In The World, But Where Is All The Money Going? Fonte: https://www.forbes.com/sites/ellenrwald/2019/04/01/saudi-aramco-is-the-most-profitable-company-in-the-world-but-where-is-all-the-money-going/#6f31fc4b57d8
Wikipedia. (s.d.). Economy of Saudi Arabia. Acesso em 2019, disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/Economy_of_Saudi_Arabia
Comentários
Não é passar a mão na cabeça de corrupto, é agir de forma a impactar o mínimo o andamento das obras. Os prejuízos decorrentes de lucros cessantes superam, e muito, os valores recuperados pela LJ, fora os milhões de brasileiros desempregados que a LJ causou.
As obras da UFN3 e da Comperj foram interrompidas pela própria Petrobras após constatar o rombo no caixa, na tentativa de fazer o balanço anual.
A Lava Jato não tem nada haver com isso ...
Obras mal conduzidas: fato. A modalidade contratual EPCista para grandes empreendimentos é uma porta aberta para custos elevados para compensar os risco e também facilita a corrupção. Porém também é fato que o modus operandi da Lava Jato foi marcado por absurdos. Samsung e SBM também se envolveram em corrupção. Como estas empresas estão hoje mesmo? Por favor, gente...
A dívida da Petrobras de fato foi gerada nos empreendimentos, onde não havia nenhum controle nos dispêndios. As obras saíram por um custo 10 vezes maior que o orçado. Basicamente a empresa foi extorquida pelas empreiteiras através de pleitos, que resultaram em cobranças extraordinárias.
Havia todo um sistema para gerar estes pleitos, desde a exclusão do projeto de detalhamento até a redação dos contratos e os prazos inviáveis, que geravam decisões erradas.
Coincidentemente estas mesmas empreiteiras estavam envolvidas no projeto do governo federal de fazer construções em países América do Sul e África. Precisavam de dinheiro para pagar os empréstimos contraídos ao BNDES, uma vez que os países beneficiados obviamente não possuiam recursos para pagar grandes obras de infraestrutura fora da sua realidade.
Esta crise foi fabricada e de fato quebrou a companhia, chegando ao ponto de não conseguir fazer o balanço anual.
O resto é choro ideológico...
Continue, pois esta presença constante ainda pode salvá-lo.
À despeito das diferenças de entendimento, desejo um bom final de ano
O senhor precisa estudar mais os balanços da Companhia, pois ela nunca esteve quebrada. Isso é o brado ideológico que pretende justificar o injustificável.
A corrupção que houve não pode legitimar a corrupção de agora, pois a política suicida que vivemos não encontra paralelo em qualquer empresa do setor. E dizer que elas nunca viveram problemas com corrupção é desconhecer a realidade