“Na primeira metade do século XIX, a Inglaterra se expandia comercial e industrialmente no que ficou conhecido como "Era Vitoriana". O dinheiro do mundo afluía para Londres numa proporção nunca antes vista. É claro que este "milagre" não ocorria espontaneamente. Também não é fruto do "empreendedorismo" inglês ou do "livre mercado". Desde o final do século XIX, após o início do processo de industrialização, a Inglaterra praticava a chamada "política externa das canhoneiras". Os navios ingleses abriam o comércio dos outros países à bala.
Ainda assim a coroa britânica tinha problemas. Desde o mercantilismo, tinha ficado assentado que para um país enriquecer era necessário ter-se uma "balança de comércio favorável". O país precisava vender mais do que comprar na comparação total e na comparação unitária com cada parceiro de comércio. O Brasil sofria muito com esta regra. No RJ do XIX, por exemplo, chegavam esquis e roupas inglesas de inverno para venda. Tudo para "balancear" o comércio com a ilha.
A China, no entanto, não precisava de nada que a Inglaterra vendia. Era autosuficiente em roupas, porcelana e etc. Aliás, vendia seus produtos de luxo a preços caros para a Inglaterra. Os nobres ingleses gostavam de porcelana chinesa e da seda ... vestidos, roupas e lenços de seda. A balança de comércio Inglaterra-China era totalmente favorável à última. E isto não poderia continuar aos olhos britânicos.
A solução encontrada por Londres continua a ser a mesma aplicada nos dias de hoje: forçar os países a consumirem os produtos que o seu país produz. Seja por meio de negociações ou mesmo de ameaça. A Inglaterra fez as chamadas "Guerras do Ópio" (1839-1842 e 1856-1860) pelas quais venceu militarmente a China, destruiu suas indústrias e manufaturas, e viciou a população chinesa no ópio que a Inglaterra produzia na Índia. Estava tudo resolvido, se os chineses não queriam comprar nada de útil, agora consumiriam ópio. A guerra veio exatamente quando as dinastias na China proibiram o consumo de ópio e atacaram o contrabando inglês. Terminada a guerra, a China somente se reerguiria economicamente depois da Revolução Comunista em 1949.
Por incrível que pareça, o Brasil está na mesma situação. O projeto de desenvolvimento nacional dos governos petistas visava a utilização do pré-sal, desenvolvimento de condições de produção nacionais, melhoria na produtividade da mão de obra nacional (via educação) e uma política externa "ativa e altiva". Isto incomodou o capital internacional, especialmente depois de 2008.
Com Temer, Guedes e Bolsonaro, o capital internacional destruiu o Brasil de forma mais fácil do que as canhoneiras inglesas fizeram na China. A balança de comércio brasileira vem em viés de queda (com as maluquices da política externa de Bolsonaro) e hoje Guedes começa a nos endividar em moeda estrangeira (https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/11/04/tesouro-anuncia-abertura-de-emissao-de-titulos-da-divida-externa-com-vencimento-em-2050.ghtml). Fazia anos que o Brasil não se endividava em dólar. Guedes (que provavelmente vai sair ainda mais rico do que entrou como ministro) vai nos colocar novamente de joelhos para os dólares estrangeiros e talvez até para o FMI.
A fórmula mágica para enriquecer ainda mais os ricos, internamente, é diminuir o salário, cortar direitos, diminuir o emprego e aumentar a gasolina e a luz. É uma enorme ferramenta de concentração de renda que está funcionando no Brasil. Você não tem dinheiro, está trabalhando cada vez mais e o país ganhou mais de 400 novos "milionários". De onde você acha que eles vieram?
No campo internacional, a ideia é a mesma e a fórmula parecida. Crie desemprego, diminua impostos até o estado não conseguir se pagar e então - com a desculpa do "déficit" - force a venda de patrimônio nacional para o exterior e o endividamento do país em dólar.
Se ninguém parar Bolsonaro e Guedes - da forma que for - antes do final do mandato dele estaremos novamente sustentando os ricos do mundo, com o FMI e seu chicote nas nossas costas ...”
Fernando Horta
Fonte: Carta Campinas
Comentários
Ouso dizer que se nao fosse o grande timoneiro Mao jamais a CHINA seria essa potencia que e hoje.
Vai pra rua, abiguinho...vai dar certo!
A do Chile já fez o governo recuar e ceder, e mesmo assim as população não deixou as ruas, parece determinada a fazer mudanças estruturais no seu país.
Nem balas, nem toque de recolher, nem ameaças conseguiram deter as manifestações até agora. Um milhão de manifestantes em um país com 18 milhões de habitantes não é para se desprezar.
Você não devia estar tão confiante com o seu sarcasmo...