A Petrobras, petroleira respeitada mundialmente e que acaba de completar 66 anos de história e benfeitorias ao Estado nacional, atravessa seu pior momento diante das ameaças impostas pelo projeto entreguista de Jair Bolsonaro, patrocinado pelo neoliberalismo do ministro da Economia Paulo Guedes e dos parlamentares da atual legislatura.
Há em curso um processo avançado de privatização dos ativos da empresa e de suas subsidiárias, como a BR Distribuidora e a Liquigas, além dos leilões a companhias estrangeiras das vultosas reservas de óleo do pré-sal, uma das principais descobertas da engenharia brasileira e capaz de prover nossa autossuficiência energética por, pelo menos, 50 anos.
Para discutir o atual estado da petrolífera, o Faixa Livre convidou o diretor da Associação de Engenheiros da Petrobras (Aepet) e conselheiro da Petros Fernando Siqueira, o geólogo da estatal e tido por especialistas como o ‘pai’ do pré-sal Guilherme Estrela, a geóloga e diretora do Sindicato do Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ) Patrícia Laier e o professor de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador do Institutos de Estudos Estratégicos do Petróleo (INEEP) da Federação Única dos Petroleiros (FUP) Eduardo Pinto.
Os campos do pré-sal, encontrados em águas profundas durante a gestão do ex-presidente Lula, oferecem risco quase zero, pois já são explorados atualmente pela Petrobras e podem render mais de R$ 1 trilhão ao Estado brasileiro caso sigam sob controle público. No entanto, a intenção o ex-capitão do Exército é beneficiar os detentores do capital internacional, como historicamente acontece.
“Para entender isso, temos voltar um pouco atrás. Esse é um projeto de colonização e submissão do Brasil a interesses antibrasileiros que vem desde muito antes. Começou com as privatizações da Eletrobras, que foi uma pancada violenta na área científica e tecnológica brasileira, e um conjunto de outras privatizações nos governos anteriores, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce, que deixou de ser estatal para ser uma empresa com interesses privados. Estamos vivendo a fase final de implantação desse processo de colonização”, alegou Estrela.
A descoberta de tais jazidas aliás, alterou a realidade do setor petrolífero brasileiro, imposta pelo então governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que quebrou o monopólio estatal do petróleo, estabelecido por Getúlio Vargas em 1953, quando da fundação da Petrobras. A eleição de Lula, em 2003, retomou o processo de valorização da empresa, com a ampliação da exploração de poços no Espírito Santo, em cidades do nordeste e na bacia de Santos, além da bacia de Campos.
Contudo, nos últimos anos o desmonte da petrolífera se dá em escala acelerada, desde o governo de Dilma Rousseff, tendo como marco a gestão de Aldemir Bendine, em 2015. O ex-presidente da Petrobras deu início ao processo de privatizações das reservas de óleo descobertas em 2006, no Rio de Janeiro, em meio às denúncias de corrupção na companhia expostas pela operação Lava Jato.
Com os planos de venda de ativos, os profissionais da estatal atravessam um momento de incertezas, com possibilidade de mudança de sede e forte iniciativa dos diretores em provocar demissões ‘voluntárias’.
“As pessoas que se importam com a Petrobras se sentem muito mal porque a empresa está sendo destruída, a palavra é essa. Querem tirar a gente do Norte, Nordeste e Sul para concentrar no Sudeste, estão virando a vida das pessoas de cabeça para baixo. Agora reduziram o quanto vão pagar de adicional de transferência, o que oferecem para as pessoas é o PIDV (Plano de Incentivo à Demissão Voluntária). Existe uma pressão muito grande hoje em dia em cima do petroleiro”, lamentou Patrícia Laier.
O descaso com o corpo técnico da empresa é outro fator que preocupa a dirigente do Sindipetro-RJ. Alguns dos cursos oferecidos internamente pela estatal deixaram de ser ministrados. Ela deu como exemplo as aulas de geopolítica, classificadas por um dos gerentes da empresa como ‘perigosas’.
“Essa semana, a Petrobras está fazendo reuniões em alinhamento durante nossa campanha salarial, que a gente vem fazendo um esforço extremo para negociar a manutenção do nosso ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) 2017-2019, e esse ano praticamente tentamos essa manutenção, garantir nossos direitos, porque eles vêm com essa lógica de banqueiro. Se você pegar uma apresentação internacional dos gerentes financeiros da Petrobras, verá orçamento zero para a parte do pessoal. Aquela política de valorização corpo técnico ficou no passado”, comentou.
Em repúdio às ações do Governo Federal contra a estatal e aproveitando a data de aniversário da Petrobras, ontem (03) foram realizados uma série de protestos Brasil afora, que contaram com a participação não apenas de petroleiros, como de diversas outras categorias profissionais, incluindo os da educação, dos Correios e da Casa da Moeda, no que se chamou de Dia Nacional de Luto.
No Rio de Janeiro, os manifestantes se concentraram em frente à igreja da Candelária, no Centro, e partiram em passeata até a sede da empresa. O diretor da Aepet destacou a necessidade de ações coletivas para conter a investida contra o patrimônio nacional.
“Para sair desse imbróglio que hoje estamos vivendo, é preciso a união de todos os segmentos brasileiros, principalmente das estatais, que estão sendo desmontadas, mas fundamentalmente repetir o memorável e, diria, maior movimento cívico da história do Brasil que foi o movimento ‘O petróleo é nosso’, que congregou estudantes, professores, trabalhadores de todas as categorias em todos os ramos. Estamos vendo que esse governo desmonta o Brasil sem ter um projeto de nação, um planejamento estratégico para melhorar a economia, desenvolver o país”, avaliou Siqueira.
A tragédia da entrega da Petrobras se mostra mais evidente quando são expostos os valores envolvidos na venda de excedentes de petróleo. De acordo com Eduardo Pinto, a perda para o Estado brasileiro não tem precedentes.
“Os números são muito impressionantes porque, na verdade, é o leilão do excedente da cessão onerosa, ou seja, olhando os dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo) e da Petrobras, e com perspectivas pessimistas, estamos falando de um excedente-lucro que estará em disputa, descontando todos os custos, pegando as receitas futuras e projetando também a curva de produção, de aproximadamente US$ 200 bilhões”, indicou o economista da UFRJ.
As consequências deste processo iniciado no governo de Dilma Rousseff e que segue sob a batuta de Bolsonaro, Paulo Guedes e Roberto Castello Branco, atual presidente da petroleira, devem atingir não apenas as classes mais humildes da nossa sociedade, como também aqueles que patrocinaram a chegada do político do PSL ao Palácio do Planalto.
“Acho que nesse momento que a gente vive na trajetória brasileira, a Petrobras é um exemplo do completo desmonte das instituições, do projeto nacional, do Estado, e vou dizer mais, das nossas elites que desembarcaram desse projeto. Agora, mesmo essas elites não entenderam uma coisa, parte dessas elites médias também vai perder com isso, os revendedores, os pequenos e médios distribuidores vão perder com esse processo”, projetou o pesquisador.
Ouça o debate na íntegra:
Comentários
Não foi mera coincidência que após o sucesso do combate a corrupção pela Lava Jato em foram encontrados milhões em quantias materiais e em dinheiro vivo por integrantes de vários partidos, eis que o COAF foi passado da Policia Federal...
(continua)
... para a Secretaria da Fazenda limitando seu alcance em uma manobra suja, justamente para blindar os maiores envolvidos em corrupção entre os mais recentes Edson Lobão e Fernando Bezerra pais e filhos, Paulo Preto, Flavio Bolsonaro...
Causa- me estranheza que a AEPET-Associação de Empregados da Petrobras que não a defendeu no período em que esteve á beira do abismo durante o governos passados, onde ocorreram vários desvios por uma dezena de diretores, agora vem defender a Odebrecht cujo desfalque é muito maior do que está sendo resgatado, pois simplesmente a maior quadrilha do mundo foi desbaratada.
Bom, gosto é gosto.
Eu me importo em pagar, prefiro pagar menos imposto e ter a opção de pagar a universidade que eu escolher. Considerando o número de vagas e a população economicamente ativa, temos que 0,2%(aproximadamente) tem acesso à uma universidade, ou seja, no final das contas 99,8% da população está ajudando a pagar a conta dos 0,2%. Não acho isso muito justo.
O estado tem que fornecer educação básica e secundária, pois todos devem entrar no mercado de trabalho com uma profissão.
O governo tem que mudar o foco, tem que transformar todas escolas secundárias em escolas técnicas, que devem ter acesso universal e não só 0,2% como são as universidades.
De que adianta ter universidades públicas para virarem covil da esquerda?
Você não paga imposto só para ter desconto depois.
Pagam-se impostos para criar um ambiente de equidade de oportunidades e bem estar social. Do contrário, como um pobre poderia ter educação, saúde e meios mínimos de sustento? Se você não sabe nem isto, nem adianta continuar a conversa.
Com relação à ensino superior, saiba que 60% das verbas das universidades nos EUA são oriundas de impostos, quase todo o resto é fruto de patentes desenvolvidas por elas mesmas e somente uma fração mínima vem da iniciativa privada. Nas universidades europeias é de quase 77% de verbas do governo.
O modelo "estado mínimo" que o sr. está propondo não é viável nem nestes países, quanto mais aqui. Deixar para a iniciativa privada é ondenar pobre a ser operário, trabalhador de nível médio, doente e manipulável.
Universidade é para ser foco de pensamento, tecnologia e arte. Não deve ser só para ricos.
Desde que sejam Esquerdofrênicas...patético!!!
Seus comentários ofensivos estão sendo, finalmente, apagados pelo moderador, já reparou?
Mas eu os recebo no meu e-mail, me divirto muito ao lê-los, são sinais de que você perdeu. Xinga à vontade.
Tente crescer, já está na hora, fica feio um marmanjão bancando criancinha por aqui.
Um grande abraço.
UMA DERROTA!
Negam tudo...negam a ROUBALHEIRA...negam a DÍVIDA....os DESMANDOS e tudo mais.
Esses HIPÓCRITAS deixaram criar o ambiente perfeito para o que aí está....
"Não existe almoço grátis"...
As universidades, escolas e hospitais públicos são custeados por nossos impostos.
Que bom, não é mesmo?
Pelo menos nossos impostos servem (ou deviriam servir) para algum fim nobre e valioso como educação e saúde para os menos afortunados.
Não me importo nem um pouco em pagar este "almoço grátis". Mas há quem ache que tudo deve ser privatizado, até mesmo isto. Gente que nunca dependeu de ensino, saúde, segurança, apoio jurídico de órgão públicos, provavelmente.
Pode ver TODAS as falcatruas e condenações que vai reparar nessa lógica absoluta.
Na minha opinião, não é razoável achar que um Diretor ocupando o cargo por mais de DEZ anos não sabia de nada.
Tem muita gente que aparece aqui defendendo a Petrobras mas participava, mesmo que indiretamente, no assalto à empresa.