Para justificar sua política de preços, o atual presidente da Petrobrás, Pedro Parente, compara a Companhia a uma padaria. Afirma que, da mesma forma que o padeiro não determina o preço do pãozinho, dependente do preço do trigo no mercado internacional, a Petrobrás também não determinaria o preço dos combustíveis, que seria resultado do preço internacional do petróleo. [1]
Trigo e petróleo, pãozinho e combustível. Didático?
Estamos diante de uma metáfora, de uma falácia ou de uma metáfora falaciosa?
Proponho o seguinte exercício: vamos imaginar como seria a "Padaria Petrobrás".
No país da "Padaria Petrobrás", até a década de 1950, o abastecimento de pães dependia das padarias multinacionais estrangeiras, organizadas sob um cartel conhecido como o Cartel das Sete Irmãs do Trigo.
Com a campanha "O trigo é nosso" os cidadãos defenderam que o país era capaz de produzir trigo no seu próprio território. Também que a produção de trigo e de pãezinhos desenvolveria o país.
Diante da maior mobilização popular do período contemporâneo, foi criada a "Padaria Petrobrás" para exercer o monopólio integral da produção de trigo e pãezinhos, em nome do Estado Nacional.
A "Padaria Petrobrás" enfrentou muita resistência, era condenada pelas maiores empresas de comunicação do país, financiadas e a serviço dos interesses das padarias multinacionais que, até a criação da padaria nacional, dominavam todo o mercado de pães, que eram importados.
Mas a população confia na padaria monopolista nacional e ela foi alcançando bons resultados, primeiro na produção de pães e depois na descoberta de trigo no país.
A padaria nacional passou a ser associada à capacidade de realização de toda a população e desmentia os céticos, construindo um grande parque de panificação, responsável pelo abastecimento de todo o mercado de pães do país.
Encontrar o trigo foi seu próximo desafio. A "Padaria Petrobrás" precisou procurar em locais remotos nos quais nenhuma outra padaria havia conseguido encontrar e produzir trigo.
Finalmente, depois de ser alvo de muitas críticas daqueles que serviam às padarias estrangeiras, a "Padaria Petrobrás" encontrou trigo no fundo do mar. Desenvolveu conhecimento único no mundo e produziu trigo onde nenhuma outra padaria havia conseguido.
Recentemente, a "Padaria Petrobrás" foi ainda mais longe, encontrou trigo sob a camada de sal em profundidades ainda maiores.
Como sempre... disseram que não havia trigo. Depois, que ele seria caro de se produzir. Mais tarde, que a padaria nacional não seria capaz. Por fim, o trigo encontrado e produzido em tempo recorde foi desqualificado pelo próprio presidente da padaria nacional que disse: "endeusaram o trigo do pré-sal".
Desde a descoberta do trigo abaixo do sal, a "Padaria Petrobrás" tem sido alvo de muita cobiça. Suas padarias, dutos de transporte e reservas de trigo têm sido privatizados, em favor das padarias multinacionais e dos agentes do sistema financeiro internacional.
O país vive dias conturbados porque uma greve de caminhoneiros movidos a pãezinhos interrompeu o abastecimento nacional. Eles alegam que o pão está muito caro, além de contestar a variação diária dos preços. O abastecimento do país depende dos caminhoneiros e da frota de caminhões movidos a pão-diesel.
O preço do trigo no mercado internacional tem subido diante das guerras e instabilidades geopolíticas no Oriente Médio, região rica em reservas e exportadora de trigo, alvo da ambição dos países importadores de trigo e de suas padarias multinacionais.
A atual direção da "Padaria Petrobrás" insiste que os preços dos pães devem seguir a variação dos preços internacionais, apesar de a produção do trigo e do pãozinho ser majoritariamente nacional e controlada pela própria padaria nacional.
O trigo é um patrimônio do país e a “Padaria Petrobrás” é estratégica para o desenvolvimento nacional. Acredito que o país da "Padaria Petrobrás" vai superar mais essa. A maioria dos cidadãos admira e defende a padaria nacional. Eles podem eleger aqueles que pensam da mesma maneira nas Eleições Gerais de 2018 e virar mais esta página da saga da maior padaria do país.
Felipe Coutinho é Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)
Comentários
Energia é e sempre será uma questão estratégica. A busca para segurança energética já causou e, provavelmente causará, muitas guerras e golpes de Estado.
Adicionalmente, embora o segmento de O*G seja mais refratário às mudanças, está muito forte a questão da indústria 4.0. Não podemos nos reduzir a uma exportadora de óleo cru diante de um cenário em que a integração aumenta e o aporte tecnológico esperado para as empresas demanda muitos investimentos e capacitação técnica dos profissionais. A mediocridade do governo que for não pode servir como desculpas para cair um uma mediocridade maior ainda.
No meu ponto de vista, para que os argumentos deste autor fossem válidos, teríamos que discutir uma verdadeira nacionalização de todo processo de E*P. Algo, que como bem levantado em vosso comentário, não seria factível.
Finalmente, peço encarecidamente que não confunda meu comentário, cujo teor é estritamente econômico, em falta de orgulho.
Trabalhava em "gerir grandes fortunas", de repente saiu de "dentro da cartola" do vampiro Temer.
E um mero filhote do 'Deus mercado " desprovido de qualquer sensibilidade social.
Este ranço ideológico da AEPT não representa a Engenharia da Petrobras.
Cuide dessa obsessão. Está vendo PT agora em toda parte. Aliás, isso é contagioso? Percebo que há uma coletividade que só pensa e argumenta em termos de PT. Fenômeno curioso...
Como não faz ...
Com as descobertas do nosso Petróleo Offshore acendeu o sinal amarelo,com as descobertas e produção do Pre sal com custos abaixo dos informados pela mídia nacional e internacional acendeu o sinal vermelho.
A velha senhora(PB) correta e eficiente tornou-se então a empresa mais corrupta do mundo a partir das descobertas de novos campos de petróleo, haja visto mensalão, petrolão e finalmente lava jato,acredito que tudo começou a ser estruturado a partir de 2002,no final veio o impedimento de Dilma a prisão de Lula tudo figuração.
O tempo é o senhor da razão,quando nos tornarmos um País de primeiro mundo estaremos importando petróleo do Oriente Médio e seus homens bombas.
Aceite que há pessoas que concordam com você e outras que não. Vida que segue
Acredito que o meu comentário não tenha ficado claro. Por favor, permita-me reapresenta-la para o senhor:
A nossa falta de independência em relação a fornecedores estrangeiros, cuja origem é muito bem explicada em sua frase, nos impede de dizer que a nossa produção é "majoritariamente nacional". Assim, vejo que o preço internacional do petróleo possa realmente impactar nossos custos de produção, ao contrário do defendido pelo autor deste artigo.
No meu ponto de vista, para que os argumentos deste autor fossem válidos, teríamos que discutir uma verdadeira nacionalização de todo processo de E*P. Algo, que como bem levantado em vosso comentário, não seria factível.
Finalmente, peço encarecidamente que não confunda meu comentário, cujo teor é estritamente econômico, em falta de orgulho.
As respostas rápidas e consubstanciadas vem minando o artefato midiático daqueles que querem ver essa empresa gerando lucros somente para acionistas.
O caminho é esse.
Um lixo!
Quanto aos resultados de hoje, claro que eles são derivados de investimentos anteriores, isso não se discute. Mas a verdade é que, se estivéssemos produzindo o que foi prometido e/ou algo proporcional aos "investimentos" no "conteúdo local", agora estaríamos até rindo da dívida semitrilionária da empresa.
Ou acham que Petrobras produzirá 4,2 MILHÕES de barris/dia em 2020? Ou acham que refinaria que produziria 100 mil bpd e custaria US$2,5 bilhões mas produz uns 25 mil bdp e custou US$20 bilhões não deteriora lucro e não inflou dívida?
Engraçado citar "investimentos" esquecendo SUPERSUPERSUPERFATURAMENTOS e propinas a ponto de Palocci (só ele) ter sido pego com equivalente a BILHÃO DE REAIS numa única conta nos EUA, não é?
Edilson Sana tá serto!!!
Logo, referir estado anterior que quase levou Petrobras à falência (teria conseguido se não fosse a Lava Jato) só pelo lado indiscutivelmente bom esquecendo o mau, que parece até ter sido maior, porque "brecou" a Petrobras e até economia e desenvolvimento do país, é brincadeira, né?