Enquanto perde fôlego a “Primavera Árabe” sem que se altere muita coisa na região - o Oriente Médio e o Norte da África - pouca atenção é dada ao panorama africano, particularmente à África Subsaariana, no que se refere ao suprimento de energia convencional ao mundo.
A atual produção de petróleo africana beira os 6 milhões de barris por dia (8% da demanda mundial), sendo a maior parte deste total destinada à exportação para a Europa e EUA. Dentre os principais produtores de petróleo africanos estão a Nigéria, Angola, Argélia, Gabão, Sudão do Sul, Chade, Congo e Gana. Deixo de mencionar a Líbia em função da crise que hoje abala as instituições do país. Não se pode, todavia, deixar de citar que a Líbia até há pouco foi importante supridora de petróleo à Europa ocidental.
As atuais reservas provadas de petróleo no continente africano chegam a 130 bilhões de barris (10% das reservas mundiais), um número bastante significativo, tornando a África uma alternativa muito interessante se comparada com o instável Oriente Médio.
Há, entretanto, alguns problemas regionais que impactam a produção. O mais grave atualmente é a crise na Líbia que afeta grandemente a produção do país sem que se tenha uma solução à vista, apesar da participação da OTAN ao lado dos rebeldes que lutam para derrubar o ditador. Outro não menos grave são as tensões no Delta do rio Níger, região produtora na Nigéria. Nesta área há movimentos contrários à produção de petróleo por empresas estrangeiras ao passo que a população é cada vez mais pobre. Esta situação tem dado ensejo a atos de protesto, vandalismo e sabotagem por parte das populações locais contra instalações de produção e transporte na região do Delta, transformando a área em uma das mais poluídas do mundo em razão dos permanentes vazamentos de petróleo.
Um traço comum em todos os países africanos produtores de petróleo, exceto a Líbia, é a presença de empresas multinacionais nas atividades de exploração, produção e exportação. São as gigantescas corporações europeias e norteamericanas do setor que se aproveitam da falta de capitais, tecnologia e infraestrutura desses países para ocuparem espaços na lucrativa e vital atividade petroleira.
Um caso digno de nota é o de Angola, o membro mais novo da OPEP. As recentes descobertas de petróleo em águas profundas em seu litoral estão sendo avaliadas e, caso confirmado o seu volume, as reservas angolanas triplicarão, alcançando o total de 32 bilhões de barris petróleo.
Há, ainda, um fato recente em relação ao petróleo africano: o interesse da China por ele. Tendo crescido a taxas próximas de 10% ao ano nos últimos anos, a China, mais do que nunca, precisa de fontes seguras de energia. Para chegar a este objetivo os dirigentes chineses decidiram importar petróleo de países africanos. Os negócios chineses na África apresentam múltiplas facetas.
Todas, entretanto, têm o suprimento de petróleo como objetivo final. Tem havido grandes investimentos das empresas estatais chinesas nos países africanos produtores de petróleo. Em alguns casos, ocorre um intercâmbio de petróleo africano por produtos manufaturados chineses de baixo custo. Em outras situações, há grandes investimentos chineses em infraestrutura nesses países extremamente carentes desse tipo de instalações e serviços. Há ainda casos em que empresas de petróleo chinesas estão adquirindo áreas para exploração e produção de petróleo e gás natural em países produtores africanos.
Resta, portanto, torcer para que os governos desses países africanos se organizem politicamente para que suas populações possam usufruir dos benefícios crescentes deste novo quadro.